terça-feira, julho 18, 2006

ALICE ATRAVÉS DO ESPELHO
E o que queremos dizer com um "nome"? A questão, ou uma forma da questão, é proposta em Através do espelho. Poucos capítulos depois de atravessar o bosque sem nome, Alice encontra a figura desconsolada do Cavaleiro Branco, que, do modo autoritário próprio dos adultos, lhe diz que vai cantar uma canção para “confortá-la”. “A canção é chamada”, diz o Cavaleiro, “Olhos de eglefim”.

“Ah, é esse o nome da canção?”, disse Alice, tentando interessar-se.
“Não, você não está entendendo”, disse o Cavaleiro, parecendo meio contrariado.
“É assim que se chama o nome da canção. O nome verdadeiramente é ‘O homem velho, muito velho’.”
“Então eu devia ter dito ‘É assim que se chama a canção’?”
“Não, não devia: isso é outra coisa. A canção se chama ‘Modos e meios’. Mas isso é só como ela se chama, veja bem!”
“Mas qual é a canção, afinal?”, disse Alice, já completamente desnorteada.
“Já estava chegando ao ponto”, disse o Cavaleiro. “A canção, verdadeiramente, é ‘Sentado sobre uma porteira’. A melodia fui eu mesmo que inventei.”

Alberto Manguel – No bosque do espelho, 2000.